terça-feira, 12 de julho de 2016

A ideia errada de que não somos merecedores



Quem me conhece sabe que, de há uns anos para cá, deixei de ligar à selecção. O misto de jogadores pouco merecedores de usar a camisola e de uma histeria generalizada sempre que jogam as quinas foi demais pra mim. E acordei tarde para o que foi a maior noite do nosso futebol.

Por isso, para mim foi fácil ouvir as críticas que faziam à nossa selecção, cá dentro e lá fora, e ir com a maré: que jogávamos mal, que tivemos sorte, que não merecemos ganhar. Pensando bem sobre isso, não podiam estar mais enganados.

É verdade que esta não foi a equipa mais talentosa que apresentámos em palcos internacionais, longe das gerações de Eusébio e Figo (esta última a responsável pela sensação geral de que estamos entre os maiores, quando na verdade temos uma população muito pequena e estamos fora das verdadeiras elites do futebol europeu). A expectativa de que uma equipa deve, em teoria, jogar melhor não pode ser razão para dizer que uma equipa joga mal. Se olharmos para além de Ronaldo, vemos uma equipa composta por jogadores de ligas ou equipas secundárias, novatos nas grandes competições internacionais ou em idade para lá do seu pico de forma. A maneira como jogámos nos últimos anos demonstrou claramente que não nos estávamos a adaptar à realidade de que temos um conjunto com menos qualidade técnica. Foi o Fernando Santos, a quem tiro o chapéu, que percebeu o que tinha de fazer.

Gales e a Islândia fora apontados como os heróis deste campeonato, Portugal foi condenado por jogar demasiado à defesa. Sem desvirtuar todo o mérito dessas duas grandes equipas (cujo caminho segui talvez até com mais interesse do que o nosso), a Islândia teve uma média de 8 remates por jogo e Gales 11,3. Portugal teve 16. Não se pode cunhar uma equipa de defensiva por falhar golos, ou porque estamos à espera que marquem mais. A noção de que fomos uma equipa defensiva é quase tão errada como a de que tivemos sorte em passar a fase de grupos. Quanto muito tivemos azar! Num dia normal, as exibições contra a Áustria e a Islândia teria terminado em goleadas. Teremos tido alguma sorte em ficar, depois da fase de grupos, na metade mais fácil da tabela. Do outro lado, em quase todos os jogos seríamos os favoritos a ir para casa. No último jogo ganhámos a quem ganhou a todos os outros, portanto essa sorte vale o que vale.

Na final sim, jogámos à defesa, mas o que é suposto fazer uma equipa que, aos 25 minutos, fica sem o seu melhor jogador e referência no ataque, sem ter grandes soluções no banco? E desengane-se quem ache que jogar à defesa é jogar mal e que é só ficar ali sentadinho com o estaminé montado dentro da área. É desgastante, é preciso concentração, entreajuda, uma grande capacidade táctica: é preciso uma equipa - e isso é tão difícil de fazer numa selecção com jogadores que jogaram muito pouco uns com os outros. Essa foi a grande obra de Fernando Santos.

Portanto, a ideia de que Portugal jogou mal, à defesa e teve sorte é, no mínimo, dúbia e com provas em contrário. A única coisa que podem apontar é que Portugal não jogou bonito. Mas para isso, a beleza da história desta selecção - desde o passado de muitos dos jogadores, até perder a sua maior estrela durante a final e ser o patinho-feio a marcar o golo da vitória - chega e sobra.











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