sexta-feira, 6 de março de 2015

Regras do futebol ficam na Idade da Pedra mais um ano




Dia 28 de Fevereiro reuniu-se o International Football Association Board (IFAB) para discutir possíveis alterações às regras do futebol. A saber, estavam em cima da mesa decisões sobre:

- o fim do "castigo triplo" (que é quando um jogador de campo defende a bola com a mão e faz penalti, é expulso e leva uma suspensão),
- a existência de uma quarta substituição se o jogo for a prolongamento,
- o uso de tecnologias para medir a performance dos atletas
- e a existência de substituições flexíveis nas camadas jovens.

Para discussão (ficou logo bem claro que nenhuma decisão seria tomada sobre o assunto) estava também o uso das repetições em vídeo para ajudar os árbitros na tomada de decisões.

Primeiro que tudo: é só isto que têm para discutir num ano inteiro de futebol? Se formos ver a lista de alterações que este organismo fez ao futebol, percebemos que estas não são as pessoas mais proactivas do mundo - 6 alterações, 3 delas à mesma regra. Acho que 4 gajos sentados no café em dia de jogo abordam mais temas do que esta malta. Já agora, o IFAB é composto por 8 pessoas, 4 representantes da FIFA e um de cada uma das ligas britânicas. O voto vale o mesmo para todos e é necessário uma maioria de 3/4 para passar uma lei - que é o mesmo que dizer que se, ou a FIFA, ou os britânicos, não quiserem uma lei, ela não passa. Parece justo.

A decisão mais importante que tomaram foi relativamente ao "castigo triplo", e mesmo essa nem foi bem uma decisão - eventualmente, algures no futuro, esse jogador deixará de ser suspenso. É coisa para não abalar muito o mundo do futebol.

A quarta substituição não será introduzida, porque segundo eles não há razões para o fazer. Quem já viu meia-dúzia de jogos que foram a prolongamento e sabe que a qualidade do jogo cai bastante com a crescente fadiga física. As equipas partem-se ao meio e os defesas só defendem e os avançados só atacam. Há treinadores que decidem guardar uma substituição para o prolongamento, porque muitas vezes esse jogador faz a equipa inteira andar, unindo as duas metades. Mas talvez seja preferível os prolongamentos continuarem a parecer o Solteiros vs Casados do bairro.

A utilização de tecnologia para medir a performance dos jogadores será aceite, desde que a informação não seja usada durante o jogo. Tudo bem.

As substituições flexíveis (ou seja, o mesmo jogador poderá ser substituído e voltar a entrar) nas camadas jovens foram aceites; resta saber em que condições.

Quanto ao caso mais sério, a utilização do vídeo para apoiar os árbitros, ficou em águas de bacalhau. A razão principal para terem adiado a decisão é, justificam, que 1. é uma decisão muito importante para ser tomada de ânimo leve, "the biggest decision ever made in the way football is played" e 2. que precisam de mais informação.

Isto é preguiça ou falta de visão?
1: a biggest decision ever made não é esta, nem de longe. Isto nem sequer altera a maneira como se joga (talvez o teatro deixe de fazer parte do jogo, mas isso é bom!). Antigamente as equipas tinham 20 jogadores, não havia guarda-redes, as balizas não tinham altura máxima, o jogo durava duas horas ou mais e não havia foras-de-jogo. Isso sim foram alterações nos fundamentos do jogo, agora se os árbitros podem ou não fazer melhor o seu trabalho nem devia estar em discussão.
2: se precisam de mais informação vão aos EUA, eles usam isso em vários desportos e de maneiras diferentes, é como ir a um buffet: é só escolher. E se precisam realmente de mais informação, porque é que proibiram a Holanda de usar esse método na taça, quando isso poderia trazer-vos os dados que precisam sem terem de pôr o pescoço em risco (afinal, foram eles que se ofereceram)?

Quem são estas pessoas?


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