domingo, 9 de novembro de 2014

Andy Schleck abandona o ciclismo

Sempre gostei de desportistas que aparecem ainda muito novos, cheios de potencial mas com algumas falhas, sem serem autênticos monstros e papa-medalhas. O Schleck era exactamente isso. Teve o seu primeiro pódio numa grande volta (Giro) aos 21 anos e a partir daí acumulou camisolas da juventude na Volta a França. Era o meu ciclista favorito, o primeiro favorito que tive na modalidade. Em 2014, com 29 anos, decide abandonar o ciclismo, mas o seu abandono tem acontecido ao longo dos três últimos anos.



A Volta a França de 2010 foi o momento alto da sua carreira, e também para mim como adepto. O ano da "etapa da corrente" - num dos ataques que fez a Contador, na última subida, aquele ataque que parecia finalmente deixar Contador para trás, a corrente saltou-lhe, Contador contra-atacou (disse que não viu a corrente saltar) e ganhou-lhe 39 segundos nessa etapa. 39 segundos foi exactamente o tempo que separou Contador e Schleck no final, com vantagem para o Espanhol. Eventualmente a vitória foi atribuída ao Luxemburgês por controlo anti-doping positivo de Contador, mas a vitória não sabe ao mesmo e Schleck nunca a reclamou.



Parecia o início de uma grande rivalidade, mas quando se voltaram a encontrar no ano seguinte Contador (já não me lembro porquê) não estava em forma e depois disso foi Schleck que nunca voltou a estar. Esse foi o ano da mítica vitória de Schleck no Galibier, talvez a melhor de toda a década no Tour. Atacou no Izoard a 60 km do fim, desceu o Izoard, subiu todo o Galibier na frente e, mesmo quebrando ligeiramente no fim, ganhou 2 minutos e tal à concorrência. Chegou à camisola amarela pouco depois, mas a falta de ambição em algumas etapas e os problemas habituais de correr com o irmão (nunca se sabia bem quem era o chefe de fila, trabalhavam um para o outro intermitentemente, o que os fez perder tempo em várias etapas ao longo dos anos) fizeram com que à chegada do contra-relógio final não tivesse tempo suficiente para não ser ultrapassado por Cadel Evans.



Andy Schleck não voltou a terminar uma Volta a França. Quedas e lesões foram a primeira razão para o se eclipsar do ciclismo, aos poucos. Depois, o seu irmão acusou o uso de um diurético proibido, que o afastou da estrada durante 1 ano, que causou uma instbilidade enorme dentro da família Schleck, com o pai (também ciclista) a aconselhar que ambos abandonassem a carreira. Esse momento, o facto de Andy Schleck nunca mais ter corrido a um grande nível e ainda a sua ligação ao treinador Bjarne Riis (cujo historial de uso e aconselhamento de doping é conhecido) levam a grandes suspeições e teorias.

Fica-me na memória aquele rapaz fininho e simpático, que uma vez disse a um professor que não precisava de estudar porque um dia ia ganhar a Volta à França; que trepava que era uma maravilha mas que não aguentava a pressão dos contra-relógios (e também não tinha jeito para eles). Tenho pena de nunca o ter visto vencer na estrada.